quinta-feira, 31 de agosto de 2017

Sindmóveis quer ampliar vendas no Ceará

O presidente do Sindicato das Indústrias do Mobiliário no Estado do Ceará (Sindmóveis-CE), Júnior Osterno, esteve no Jornal O Estado e falou sobre a importância do associativismo, ainda mais em um momento econômico tão complicado quanto o Brasil vem enfrentando. Ele destacou que as empresas do setor atendem a, apenas, cerca de 25% do mercado cearense e o plano é aumentar esta participação nos próximos anos. Revelou, ainda, que um grupo de sete empresários contratou um consultor para prospectar negócios no exterior, com o objetivo de aumentar o volume exportado, tendo em vista a elevada qualidade dos móveis fabricados no Ceará.
O Estado O Ceará possui uma grande produção de móveis, tanto para a linha residencial, como empresarial e de hotelaria. Qual o principal polo produtor?
Júnior Osterno – Temos na região de Marco o nosso polo moveleiro, que é um dos mais importantes do Brasil, senão o mais importante do Nordeste. São 28 empresas que trabalham com produtos diferentes, ou seja, não competem entre si, muito pelo contrário, se complementam, e isso fortalece o nosso polo. O sindicato tem 98 associados, concentrados principalmente em Fortaleza, Marco e Jaguaribe.
OE E todas essas empresas têm a mesma filosofia de procurar não interferir nos negócios das outras, ou seja, fazer essa cadeia complementar?
JO Essa cadeia complementar é muito forte no polo de Marco, mas, em Fortaleza, a competitividade é muito grande. Em Iguatu, temos praticamente uma grande empresa, que domina a produção e o mercado local, que praticamente vive só, por lá, mas também é muito importante para o nosso setor.
OE Atualmente, o Ceará tem uma demanda reprimida, ou seja, as indústrias cearenses atendem apenas a cerca de 20% ou 25% do mercado local. Há muito espaço para crescer?
JO Só atendemos a cerca de 20% ou 25% do que o Ceará consome. Toda essa diferença – 80% a 75% – vem do Sul e Sudeste. E é um trabalho do sindicato inverter essa posição. Devagarinho a gente está trabalhando para mudar essa situação inverta. Temos um espaço muito grande, mas o Sul é muito forte na linha de móveis populares, enquanto somos mais fortes na linha de móveis de decoração, da linha média e alta, de melhor qualidade, acabamento, matéria-prima mais nobre. Temos realizado diversas ações nesse sentido, que é um dos principais focos da atuação do Sindmóveis-CE.
OE E é muito importante essa questão do associativismo?
JO O associativismo é muito importante, porque os problemas são muito parecidos, as necessidades são praticamente as mesmas e, nessa troca de informações, a participação dos associados é fundamental, pois um vai aprendendo com o outros, transferindo conhecimento, tecnologia e oportunidades.
OE Além de presidente do Sindmóveis-CE, o senhor também é um empresário do setor moveleiro. Quais os principais produtos da sua linha?
JO Nossa empresa, no fim deste ano, completa 20 anos de atuação no mercado. Já passamos por vários momento, como na exportação já vendemos para o mercado externo 95% da nossa produção, para os Estados Unidos e México. Mas depois o câmbio inverteu, tivemos de mudar de posição e, hoje, somos especialistas em hotéis, restaurantes e construção civil. Nossa empresa tem um portfólio muito interessantes, temos bons clientes tipo: Vila Galé, RioMar, Colméia, Mota Machado, Geppos, ou seja, são clientes de alto nível, que querem produtos bons, nos procuram e conseguimos atender às suas necessidades.
OE Seriam, então, móveis para cama e mesa?
JO No caso de restaurantes, atendemos às necessidades de cadeiras, mesas e marcenaria, ou seja, as peças fixas como estofados, entre outros. E na parte de hotelaria trabalhamos com o sistema “turn in key”, ou seja, “chave na mão”. A gente produz das cortinas aos móveis, passando por portas, tudo relativo a madeira, a gente faz. Temos em nosso portfólio mais de 3,5 mil a 4 mil apartamentos feitos de hotéis. Para as construtoras, fazemos portas e outros produtos, além de móveis para as áreas comuns. Temos condições de atender a qualquer cliente, de todo o Brasil e também do exterior.
OE Por falar em exportação, com a queda do dólar houve um retrocesso nas vendas externas. Mas, há um grupo de associados que está querendo vender para o mundo. Como está isso?
JO Diante da demanda de nossos associados, à procura de novos horizontes e com o preço do dólar ficando mais competitivo, criamos um grupo de sete empresas e contratamos um profissional de alto gabarito para ser nosso gerente comercial. Ele está viajando, prospectando negócios, com possibilidade de fechar grandes vendas a qualquer momento.
OE Existe algum cliente mais específico, que está com tratativas mais avançadas?
JO O foco inicial é os Estados Unidos, principalmente Miami, Houston e Highpoint. Mas, também temos o pé na América do Sul e América Central. Agora em setembro, teremos uma rodada de negócios na Federação das Indústrias, onde virão empresários de seis países da América do Sul e um da África. Trata-se de uma parceria do sindicato, da Fiec, CIN (Centro Internacional de Negócios) e da Apex-Brasil. Esse pessoal vem para o Ceará, a fim de conhecer os nosso produtos. São comerciantes, compradores, donos de rede de lojas, distribuidores. É comum esse tipo de negociação no Sul e Sudeste, que estamos trazendo para o Ceará pela segunda vez. Vamos voltar às exportações, pois o nosso produto é bom, já tem competitividade. Então, é só uma questão de tempo.
OE É bom lembrar que todos os móveis produzidos pelos associados ao Sindmóveis-CE são feitos com madeira certificada, devidamente autorizada pelos órgãos fiscalizadores, não é?
JO A gente não tem problema algum nessa área. Trabalhamos com certificações do Ibama e, em alguns casos, com madeiras de reflorestamento. Temos bons fornecedores, garantindo a qualidade dos móveis que produzimos, inclusive as suas origens. Se for preciso rastrear, isso é possível. É a tecnologia também embutida do nosso mercado.
OE Temos o Porto do Pecém crescendo a cada dia, o entrono de seu complexo industrial também. E móveis são volumosos, pesados, portanto, o navio é a melhor forma de transporte?
JO O melhor transporte é o navio. O contêiner de 40 pés, ou HC (high cub), porque o móvel é volumoso. E o nosso tipo de móvel é vendido montado, porque tem valor agregado e o americano não quer esse produto desmontado. Ele prefere pagar mais pelo frete e recebê-lo pronto, só desembala e põe no local, pois evita a mão de obra extra de ter de arrumar alguém para montá-lo, o que é caro.
OE E no mercado nacional, quais são os principais estado compradores dos móveis cearenses?
JO O Nordeste todo compra móveis produzidos no Ceará, alguns estados do Norte, do Sul e Sudeste. Temos uma cadeia de lojas importante daqui, que está praticamente no Brasil todo. E 95% dos móveis que ela comercializa é produzida no polo do Marco. São cerca de 40 lojas, tem até em Curitiba, e está aproveitando este momento de crise, de aluguéis mais baratos, para abrir quatro unidades em São Paulo. É o grupo Jacaúna, que vende móveis para residências, quase tudo produzido em Marco.
OE O senhor disse que um de seus grandes clientes é o Grupo JCPM, dono do RioMar. Para quais empreendimentos a sua empresa já vendeu?
JO Nossa empresa já participou da construção dos dois shoppings aqui no Ceará – o Riomar Kennedy e o RioMar Fortaleza – e, agora, estamos participando da ampliação da unidade de Aracaju. São móveis desse nível, dessa qualidade, que o Ceará produz.
OE Inclusive, o senhor está indo a Touros, aqui no Rio Grande do Norte, para uma reunião com o empresário português Jorge Rebelo, do Grupo Vila Galé, que está construindo um grande empreendimento, ao custo de R$ 150 milhões. Qual o seu objetivo?
JO O Vila Galé é um cliente nosso, que gosta dos produtos cearenses. Já participamos da construção de cinco ou seis hotéis do grupo aqui no Brasil. Hoje, estamos reformando a unidade de Salvador, estamos ampliando o resort no Cumbuco, e estamos concorrendo para equipar o hotel em Touros. Isso reforça cada vez mais a qualidade dos nosso produtos e a nossa maneira de atender, pois desenvolvemos soluções para os clientes e isso faz diferença.
OE O Ceará tem três grandes polos moveleiros – Fortaleza, Marco e Jaguaribe. Quais os tipos de móveis fabricados por eles?
JO É interessante essa pergunta, pois lá em Marco a gente produz móveis de alta decoração, destinado às classes média e alta. Fortaleza produz mais móveis modulados, sob medida, como cozinhas, roupeiros, para atender às demandas da construção civil, que precisam ser bem projetados. Jaguaribe trabalha mais com a linha de magazine, média e baixa. Por isso a gente quase não compete, nossos concorrentes vêm mais do Sul e Sudeste. Por temos apenas até 25% do mercado cearense. Mas, estamos trabalhando para mudar essa realidade, ocupar esse espaço, pois é notório que no mercado imobiliário de Fortaleza, praticamente as áreas comuns eram todas compradas fora. Hoje, já temos quatro ou cinco empresas trabalhando forte para mudar essa realidade, pois temos assistência técnica aqui, facilitando as negociações.
OE E quais as expectativas do setor e as pesquisas para atender aos anseios dos clientes, numa mercado que é tão dinâmico?
JO A indústria de móveis local já se adaptou à crise. Dos 28 empresários lá de Marco, apenas um decidiu parar, apesar de poder se recuperar. Toda essa indústria está preparada para o que vem, e achamos que é coisa boa por aí. Os números estão mostrando isso. O desemprego para de cair, a construção civil dá sinais positivos, algumas estão contratando e nossa empresas estão preparadas. Com relação ao design, estamos sempre pesquisando. O centro principal é Milão e nosso empresários participam de feiras no Brasil e no exterior. A Fiec nos apoia muito, junto com o CIN. Se tiver um projeto bem feito, ela está pronta para nos auxiliar. E com esta força a gente consegue obter bons resultados.


Fonte: O Estado Online

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