sexta-feira, 23 de setembro de 2016

FAEC E APROLECE REÚNEM PRODUTORES E INDÚSTRIAIS QUE QUESTIONAM O CUSTO DO LEITE E PORTARIA DO MAP

Por solicitação dos pequenos e médios  produtores rurais o  Presidente da Federação  da Agricultura e Pecuária do Estado do Ceará-FAEC, reuniu no ultimo dia 20|09, na sede do Sistema Faec/Senar cerca de 60 produtores  e industriais de leite do Estado do Ceará, para discutir o aumento da pauta do Leite UHT, o aumento da pauta do Leite fluido (tributação) e a criação de um Fundo de investimentos com a finalidade de focar em  ações de incentivo ao aumento da produção e do consumo de Leite . A reunião contou com as presenças dos presidentes dos  Sindicatos  Rurais  de Quixeramobim, Quixadá, Limoeiro do Norte, Iguatu, Crateús, Maranguape, Jaguaribe, que são os  municípios maiores produtores de leite do Ceará , os presidentes dos Sindicatos das Indústrias de Leite do Estado, Sindilacticinios Henrique  Girão  Prata,  do Sindicato dos Produtores de Leite do Estado, Júnior Carneiro ,da Associação   dos Produtores de Leite do Ceará- APROLECE e da  Câmara  Setorial do Leite , Cláudio Teófilo, representantes da Agência de Desenvolvimento do Estado-Adece, da Secretaria de Agricultura, Pesca e Aquicultura-SEAPA , da Cocentral, do Sebrae-CE e de técnicos do Serviço Nacional  de Aprendizagem Rural e da FAEC.  " Nós  estamos aqui reunidos, para tomar uma decisão importante que atenda a indústria e aos  produtores, com relação ao preço do litro de leite, para equilibrar as despesas e receitas dos produtores e da indústria, disse Saboya.


Segundo o Presidente da FAEC, hoje, a pauta  do leite UHT oriundo de outros estados é R$0,30 litro / Leite, muitos estados já escoam a sua produção excedente para o Estado do Ceará. O produto é vendido no nosso Estado com preço abaixo do produzido nas indústrias locais, fazendo com que haja a redução do valor do litro de leite pago ao produtor rural. Algumas redes de supermercado já compram leite oriundo de outros estados  ao preço de R$2,87 (com os R$0,30 da pauta já embutido naquele valor) enquanto o leite produzido aqui está sendo vendido ao preço de R$3,50. A discussão  girou em torno do aumento da pauta  até fevereiro de 2017, quando há maior excedente que nos  outros  meses, para garantir a sustentabilidade da atividade  leiteira no período crítico em que se encontra a classe produtiva, atualmente.
 Flávio Saboya  leu para os  presentes uma carta assinada por ele, que será encaminhada  ao Ministro da Agricultura  e Pecuária, Blairo Maggi, repudiando a aplicação da Instrução Normativa No  26/2016, que autoriza a indústria nordestina de Leite a hidratar leite em pó (importado) para, inacreditavelmente, viabilizar o  Leite longa Vida. Na carta ele explica “que essa permissão que já foi questionada pela CNA, ao presidente Michel Temer, poderá produziu reflexos irremediáveis ao segmento produtivo do Leite no Brasil, não esquecendo, também, a reação dos Consumidores cativos do longa Vida".  E prossegue : " é lógico,  que o Leite em pó subsidiado e importado produzirá, em escala, diversos problemas, já que as Indústrias nordestinas optarão por esse leite em pó importado, em detrimento do leite puro oferecido pelo produtor nordestino, responsável pelo esforço  hercúleo de produção, face aos cinco anos consecutivos de secas e ,ainda, submetidos a preços inferiores  à média Nacional".
Na carta, Flávio Saboya enfatiza ainda  que, “com certeza, a lamentável  portaria  abriga, também,  precedentes que permitirão que a indústria nordestina de lacticínios comercialize leite longa vida hidratado para outras regiões do Brasil, inviabilizando, consequentemente, as indústrias daquelas  regiões com reflexos dos nossos, em escala, em toda a cadeira produtiva do leite no Brasil. Ele lamentou ainda, até a presente data, não  ter uma posição oficial do Ministério quanto à solicitação unânime das Federações do Nordeste, representadas pelo oficio da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil- CNA, quando solicitou a revogação da malfadada Portaria.
DEBATES BUSCARAM O ENTENDIMENTO
O Presidente da FAEC intermediou os debates, e comprometeu-se a solicitar o apoio do Governador Camilo Santana.   O Presidente do Sindilacticínios, Henrique Girão,lembrou  que a realidade de hoje é outra, onde a informação é on line, e a entrada de produtos de outros estados é uma realidade. Ele apresentou os números do cenário do setor de leite no Brasil de 2013  para  2014, cuja produção  caiu  3%,  e no primeiro semestre de 2016, comparado com o semestre de 2015, caiu  6%, conforme   dados do IBGE. Segundo ele,  essa queda  deve-se a elevação  dos preços da soja  e  do milho e ao  não acompanhamento do preço do Leite e que a lei da oferta e da procura continua regulando o mercado.
Conforme disse, a  importação do leite em pó foi montada  dentro de uma programação  rigorosa de importação, “por isso  não acredito, que pelo quadro  geral de importação, o preço venha a cair.  A grande  saída,  para eles, foi  vender o leite reidratado com o preço do leite em pó em alta. É uma questão  que devemos nos unir para  tentar reverter  essa portaria do Mapa,  essa é questão que nos une. Nós da Betânia  e de outras empresas  temos consciência  que o problema é grave e não atinge somente o nosso Estado. Não está ao nosso alcance resolver este problema, que vem se somar a questão da falta de água. Eu  não acredito  que o preço do leite vá  cair no Nordeste.
Segundo o presidente da APROLECE, Cláudio Teófilo,  este assunto vem sendo discutido há  algum tempo, com  prejuízos  incalculáveis  para o produtor rural. Com  o excesso de produção de leite no Rio Grande do Sul, o leite está  entrando no Ceará, mais  barato do que as Indústrias vendem. Para nós Produtores  devido ao histórico do que vem acontecendo há alguns anos, a gente  fica  receoso  de aprovar o aumento  da pauta do leite,  disse. Aqui ninguém  tem interesse de enfraquecer o negócio  de ninguém, nosso interesse é defender nosso negócio, as fazendas estão  descapitalizadas e a gente  vê, todo dia, criadores tradicionais  desistindo da atividade.

O Presidente do Sindicato dos produtores de Leite do Ceará, Júnior Carneiro, informou  que há  muito os  produtores buscam um acordo com a indústria, chegando a dizer que "  não há  sensibilidade  do Sindicato das Indústrias com relação ao assunto”. Propôs um novo relacionamento, com mais  respeito e mais conhecimento. A indústria precisa conhecer quanto se gasta para produziu um litro de leite, retrucou.  Esse setor que superou  cinco anos de seca, precisa de um melhor tratamento dos lacticinalistas, precisamos de um novo relacionamento entre  as partes.  Ele informou,  ainda, que muitos  produtores estão vendendo suas vacas leiteiras, por não ter condições de mantê-las, enquanto outras estão morrendo. "A conta não fecha, o custo de produção de um litro de leite é de R$1,10 por dia/ litro, se incluir outros insumos como energia, o custo sobe para R$ 1,44 e vende   no final por R$1,55, com um ganho de apenas 10 centavos, por litro. O produtor Francisco Holanir Cabral, de São  João  do Jaguaribe, ressaltou os   problemas   envolvendo produtores e industriais, como uma situação difícil para as duas partes, apontando o subsidio para o produtor como uma solução mais imediata.

Em sua fala, o  produtor de leite Bessa Junior, disse que "esse é um momento de repensar a maneira como o produtor de leite vem sendo tratado, para fecharmos também a conta do produtor,  não somente a da indústria. A situação tende a  se  complicar ainda mais. “A taxa de mortalidade do produtor cresce a cada ano”.  Já o presidente do Sindicato Rural  de Quixeramobim, Cirilo Vidal,  relatou  as dificuldades dos produtores com a falta  d'água, o preço  do milho  e, mesmo assim, não estamos tendo o apoio do governo. Se não chover até dezembro todo muito estará  morto, porque todo o estoque  das águas está sendo transferido do interior para a capital.  Quixeramobim produz  120 mil litros leite por dia, com quatro lacticínios. Temos  que encontrar uma solução, porque a indústria precisa do produtor, o produtor precisa do Governo, e  um  dos parâmetros é o  preço do leite e  ele mesmo está puxando o preço para baixo,  comprando o litro  de leite por  R$ 1,05. Da forma como está, a pecuária de leite vai se acabar, como acabaram o algodão, a oiticica e outras culturas, finaliza.

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