Houve uma redução na taxa de natalidade, aumento na expectativa de vida e redução no movimento migratório
O Ceará segue a tendência nacional de
desaceleração do crescimento populacional. No sertão cearense, famílias deixam
de ter muitos filhos, acompanhando um modelo dos grandes centros urbanos e por
causa de políticas de transferência de renda, passam a se fixar mais nos seus
municípios. Essa é a análise do chefe da Unidade do Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística (IBGE), Francisco Lopes, com base na estimativa
populacional divulgada anualmente pelo IBGE.
O Ceará permanece como oitavo Estado mais
populoso do Brasil e o terceiro do Nordeste, atrás da Bahia e de Pernambuco,
mas foi o quinto que mais desacelerou o crescimento populacional no País nos
últimos dez anos. A população estimada do Estado é de 8.963.663 moradores.
Há dez anos, o Estado tinha 8.217.085 habitantes.
Houve um crescimento de 9,09% no período. Essa taxa é metade do que se
verificou entre 1997 e 2006, que foi de 18,74%. Segundos estimativa do IBGE, a
capital cearense já tem 2.609.716 habitantes. Entre 2014 e 2016, Fortaleza
ganhou 100 mil habitantes.
No Interior, há municípios que registraram
crescimento no número de moradores e outros observaram decréscimo. A estiagem e
a falta de oportunidades de trabalho, em particular para os jovens, são fatores
que impulsionam os movimentos migratórios. Entretanto, verifica-se uma
tendência de diminuição desse fluxo se comparada com décadas anteriores.
A estimativa do IBGE mostra que, neste ano, o
País tem 206.081.432 de habitantes. "O Brasil cresce cada vez menos
rápido, a população está cada vez mais velha, houve aumento da expectativa de
vida", observa Lopes. "Em 2044, a taxa de crescimento populacional
brasileira será negativa, como ocorreu com França e Japão". A taxa de
fecundidade das mulheres entre 15 e 49 anos, que na década de 1970 era de 6,16,
caiu para 1,57.
Fatores
A desaceleração do crescimento populacional tem
como fatores, segundo Lopes, a inserção da mulher no mercado de trabalho,
planejamento familiar e elevado custo de vida. "O Interior também mudou
porque essas condições sociais e econômicas afetam a todos", frisou.
O grupo dos dez municípios que obtiveram maior
crescimento proporcional entre 2011 e 2016 é composto pelas seguintes cidades:
Horizonte, Quixeré, Jijoca de Jericoacoara, Pacajus, Pacatuba, Eusébio,
Tejuçuoca, Mulungu, Caridade e Maranguape. A metade está na Região
Metropolitana de Fortaleza, que oferece oportunidade de emprego e renda, na
indústria e nas atividades de comércio e serviço.
"A migração de famílias, de jovens para a
Grande Fortaleza é motivada por oferta de trabalho, ensino de melhor qualidade
e assistência de saúde", afirma Lopes. "O fluxo é menor do que
ocorria no passado por causa da interiorização de indústrias e das políticas
sociais de transferência de renda", completa.
Polos regionais
As cidades polos regionais cresceram e atraíram
mais moradores. Muitos saíram das áreas rurais e se fixaram nos núcleos urbanos
até por estarem "presos" aos cadastros sociais. Lopes também acredita
que a estiagem, mesmo prolongada nos últimos cinco anos, tem menor influência
nos dias atuais do que no passado para impulsionar movimentos migratórios.
O IBGE não tem como quantificar deslocamentos
populacionais de áreas rurais para as sedes municipais e para outros municípios
com base nos dados de estimativa populacional, feita a partir da aplicação de
cálculos estatísticos que já vem sendo feitos há vários anos. "Em 2020,
está prevista a realização do senso demográfico que faz a correção ou
confirmação das tendências de aumento ou decréscimo populacional",
explicou Lopes.
O arquiteto e urbanista Paulo César Barreto
também verifica que o fluxo migratório poderia ser mais acentuado nas pequenas
cidades do Interior se não houvesse os programas sociais de transferência de
renda do governo federal e as oportunidades, mesmo limitadas, que surgiram com
a expansão dos centros urbanos polos regionais.
Barreto mostra que permanece a tendência de
famílias das áreas rurais para as cidades, dentro de um mesmo município ou
região, mas curiosamente já se verifica movimento inverso. De forma tímida,
algumas famílias estão voltando para o campo.
O economista Antônio Pereira lembra que, além da
Grande Fortaleza, cidades como Sobral, na região Norte, e Juazeiro do norte, no
Cariri cearense, atraíram mão-de-obra e famílias, graças à interiorização de
indústrias, maior oferta de emprego nos parques fabris, no comércio e atividade
de serviço, além do aumento das vagas no Ensino Superior.
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